Um bate e volta pode não ser suficiente para você entender o Marajó, mas com certeza você irá se encantar
Na década de 90 tudo que se sabia do Marajó era que é a maior Ilha fluviomarítima do mundo. Nessa época, por lá andavam alguns poucos “gringos” apaixonados por barquinhos, casas de barro e por um turismo mais alternativo. Com o passar do tempo entendeu-se que o Marajó é formado por 16 municípios, com distâncias consideráveis entre eles e que não dá para conhecer tudo em dois dias.
As cidades de Salvaterra e Soure são a porta de entrada da Ilha e os dois pequenos municípios antes pacatos, hoje estruturam-se cada vez mais para receber milhares de turistas todos os anos. As casinhas de barro e madeira deram lugar às casas em alvenaria, as vias antes de areia, hoje são asfaltadas. Apesar do crescimento, as características de paraíso e do estilo de vida marajoara, permanecem.
Antes mesmo de amanhecer as ruas já estão movimentadas e os pescadores, com suas redes nas costas caminham em direção à praia, quando não partem para longas viagens, deixam a rede em um curral na água para “despescarem” mais tarde. É nesse momento que o espetáculo solar se inicia na Praia Grande de Salvaterra. O nascer do sol é mais que visto, é sentido.
Se você é diurno ou adepto da prática de ioga ou meditação este é um ótimo programa para começar bem o dia. A praia é de água doce, mas tem ondas e, em determinada época do ano, quando a força do mar invade a calmaria do rio, é possível sentir a água mais salobra.
Para quem tem tempo de sobra pode ficar em Salvaterra para aproveitar a Praia Grande e esticar um pouco mais até a Vila de Joanes, onde encontram-se as ruínas jesuítas do século XVII. Além de ser considerada um sítio arqueológico, a Vila tem belas praias e paisagens naturais encantadoras.
Salvaterra tem praias, mas durante o inverno Amazônico, o ponto alto da cidade são os Igarapés, quase inexplorados, eles fazem a diversão e são locais de descanso dos nativos, que limpam, cuidam e permitem acesso aos turistas.
Após um dia todo na praia ou relaxando nos igarapés, bom mesmo é sentar na escadaria da Praça das Comunicações, em Salvaterra, lá é possível perceber os encantos da cidade vizinha. De dia, quando o sol irradia sobre o Rio Paracauari, que separa as duas belezas marajoaras, o brilho é o convida para uma visita a Soure. E à noite, as luzes hipnotizam e o vento te faz viajar em pensamentos que te levam até lá.
Do outro lado do Rio Paracauari
De Salvaterra para Soure, considerada a capital do Marajó, são apenas 15 minutos de balsa – ferry boat – ou 5 minutos de “rabeta”, uma pequena embarcação de madeira, movida a motor, a aventura começa aqui.
A cidade introduz ainda mais a cultura e a gastronomia marajoaras. As fazendas que produzem queijo de búfala podem ser visitadas. Assim como, o curtume, que é onde os artefatos em couro são produzidos. As duas experiências são quase obrigatórias.
Algumas pequenas cidades brasileiras têm características comuns, mas ao andar em Soure, o turista é capaz de se sentir parte do Marajó, pois, os nativos ostentam as pinturas marajoaras em seus estabelecimentos comerciais e os búfalos circulam nas ruas e até ajudam na locomoção de policiais militares pelas áreas alagadas.
Em Soure fica a famosa Fazenda São Jerônimo, que foi cenário do reality show No Limite, da Rede Globo de Televisão. O local oferece passeios com muita aventura para o turista. É possível nadar com os búfalos pelos rios, atravessar as áreas de mangue de canoa e contemplar as belezas da praia do Goiabal.
Para um turista menos aventureiro, a Praia do Pesqueiro, que fica um pouco mais distante do centro da cidade, oferece o que há de melhor em estrutura, limpeza e beleza. A areia fininha te faz caminhar sob o sol até perceber que a maré está subindo, que a água já está nos pés e que você precisa voltar. Talvez o descanso em uma das redes oferecidas pelas barracas de praia seja merecido por quem vive o estresse e a ansiedade das cidades grandes. Outras opções de belas praias em Soure são a Barra Velha, que fica mais ao centro da cidade, dentro de uma fazenda, de fácil acesso e a praia do Céu, um paraíso um pouco mais distante que a praia do Pesqueiro.
O Marajó não tem pressa. Lá os passos são curtos e lentos, há sempre um sorriso e um cumprimento. Povo de amizade fácil, de felicidade estampada no rosto. Quem já foi quer sempre voltar para reencontrar o que deixou para trás. O Marajó não é para ser apenas visto, deve ser sentido e vivido.
Onde se hospedar
Salvaterra e Soure oferecem ótimos hotéis e pousadas, a muitas mais rústicas e simples, mas cheias do estilo e do bom gosto marajoara. Se optar por ficar em Salvaterra escolha pousadas dentro da cidade se você quiser passear em vários locais, pois o transporte é mais fácil. Se optar por ficar mais dias e tiver mais tempo livre para descansar, pousadas nas Praias de Joanes e Água Boa são ótimas para quem quer paz.
Se escolher Soure, fique no centro da Cidade, pois de lá você consegue transporte para as praias e fazendas. Quando for à Fazenda São Jerônimo, aproveite para ir à Praia do Pesqueiro, visitar e degustar os queijos da Fazenda Mironga, pois todas estas atrações ficam na mesma rodovia, a PA-154.
Sugestão de Transporte
Salvaterra ou Soure dispõem de transporte público bastante limitado. Porém, se o turista optar por não viajar de carro, ele vai dispor de serviço de táxi, vans e mototáxis o dia todo, que podem levá-los às praias ou até o cais de partida para a cidade vizinha.
Como Chegar
Partindo da Capital do Pará, Belém, existem três formas de chegar a Salvaterra e Soure: De barco, lancha ou Balsa (ferry boat). Os barcos saem do Terminal Hidroviário de Belém e chegam no Porto do Camará em Salvaterra ou no Porto de Soure, com parada no cais que fica em área mais ao centro de Salvaterra. As viagens de barco duram 3h e as de lancha entre 1h30 a 2h. Já a viagem de balsa é um pouco mais demorada, dura entre 3h e 3h30. As empresas que fazem as viagens de barco e lancha com destino ao Camará são a Arapari Navegações e a Rodofluvial Banav. As lanchas que chegam até Soure são da Master Motors e as viagens de Balsa são feitas pela Henvil Transportes.
De segunda a sábado são cinco viagens de ida e cinco de volta entre barcos e lanchas e pelo menos três viagens de balsa também em cada trecho. Aos domingos barcos e lanchas reduzem para quatro viagens, duas de ida e duas de volta. As balsas não reduzem. Durante a alta temporada (em julho) e feriados geralmente há viagens extras. A Rodofluvial Banav e a Henvil Transportes disponibilizam vendas de passagens on-line, o que é uma grande vantagem para quem gosta de tudo planejado com antecedência. Mas, quem quiser arriscar pode ir direto ao Terminal Hidroviário, pela manhã às viagens são 6h30, 7h00 e 8h15 e à tarde às14h00 e 14h30.
Texto: Gabriela Dutra
Fotos: Gustavo Costa